domingo, 3 de fevereiro de 2013

A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA


A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA
Na madrugada do dia 27 de Janeiro de 2013 o Estado do Rio Grande do Sul presenciou a maior tragédia de sua história em tempos de paz. Essa data deverá ser sempre lembrada por cada cidadão como o dia fatídico onde perdemos 234 jovens brasileiros, com seus planos e sonhos de futuro, com suas inquietudes e energia típicas da juventude, sim, esse foi um dia negro na história do Brasil.

Foi, de igual forma, a noite onde se manifestou, de forma mais evidente, a dificuldade com que o Corpo de Bombeiros da Brigada Militar busca, contra tudo e contra todos, garantir um alto padrão de atendimento e de proteção à comunidade Gaúcha.

Muito pouco poderia ter sido feito pelo Corpo de Bombeiros de Santa Maria, após a irrupção do sinistro, para uma mudança no resultado final. A queima produzida pela espuma de poliuretano, cuja instalação teria decorrido de uma ação promovida pelo Ministério Público Estadual para controle do ruído, conforme foi amplamente divulgado pela mídia,  é altamente letal e jamais constou de qualquer Plano de Prevenção Contra-Incêndios –PPCI- apresentado ao Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, seja pelos proprietários, seja por qualquer outro órgão estadual que tenha determinado alterações no PPCI originalmente aprovado.

No momento em que a primeira Guarnição do Corpo de Bombeiros de Santa Maria chegou à cena, composta por quatro homens, e imediatamente lançou-se bravamente ao interior da edificação para compreender e responder à emergência de forma adequada, o destino de centenas de jovens estudantes, desafortunadamente, já estava selado. A superlotação da casa, a irresponsabilidade dos músicos e o despreparo dos seguranças particulares na resposta a emergências já houvera definido o desfecho da ocorrência.

Mesmo assim, o Corpo de Bombeiros ainda protagonizou ações de salvamento que foram determinantes na garantia de vida de outras centenas de jovens que se encontravam no boate Kiss na fatídica noite.
A coordenação dos trabalhos de busca e resgate,  controle de incêndio e gerenciamento da crise realizada pelo Major QOEM Gerson da Rosa Pereira, com os recursos de que dispunha, foi exemplar e minimizou enormemente o já catastrófico número de perda de vidas que enfrentamos, consternados, nessa tragédia.

Não fosse o envolvimento direto do Major QOEM Gerson, desde os primeiros minutos da ocorrência, talvez o Rio Grande chorasse uma perda ainda maior de promissores jovens Brasileiros que buscavam nada além de confraternizar e celebrar a vida.

Apesar da incompreensão Institucional que, muitas vezes, se tem em relação aos serviços prestados pelo Corpo de Bombeiros; apesar de, insistente e equivocadamente, considerarmos as atividades de Bombeiros como especialidade de Polícia Ostensiva; apesar de continuarem sendo designados Oficiais sem qualificação técnica específica para a prestação de serviços em Unidades de Bombeiro Militar, seguimos em frente com o máximo esforço e dedicação no sentido de bem cumprir as missões que nos são afetas.

A Associação dos Oficiais da Brigada Militar, integrante do Grupo de Trabalho instaurado pelo Governo do Estado que avaliou as condições do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar na busca por uma modernização de sua estrutura nos últimos dois anos, foi a entidade que capitaneou os trabalhos, apontou as incongruências e indicou as medidas corretivas que deveriam ser aplicadas em caráter imediato, medidas essas que não foram, até agora, adotadas de pleno.

Velhos problemas estruturais, não apenas do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, mas de política de segurança pública de Estado, permitem que tragédias como a ocorrida na Boate Kiss possam, a qualquer momento, irromper em outra cidade do Rio Grande do Sul. 

Na condição de Oficial do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, manifesto sinceras condolências de toda nossa Corporação aos familiares das vítimas de tão catastrófica ocorrência. Não há palavras para expressar a dor que cada Bombeiro da Brigada Militar sente nesse momento. Estamos enlutados juntamente com as famílias das jovens vítimas deste terrível e triste momento da história de nosso País.

Manifesto, de igual forma, especial consideração aos bravos Oficiais e os Soldados do Fogo do 4º Comando Regional de Bombeiros que, a despeito das dificuldades impostas pelo modelo de gestão com o qual administramos nosso querido Corpo de Bombeiros, deram o máximo esforço no atendimento a emergência, um verdadeiro exemplo de superação e de comprometimento para com os valores de nossa Brigada Militar, mesmo diante de tão brutal cena.

Bombeiros! Mantenham-se de cabeça erguida e firmes no propósito de garantir a segurança contra incêndios de nosso amado Rio Grande. Nós somos o último recurso, nós somos o salvamento, o socorro, a redenção! Somos, por fim, o verdadeiro amigo certo nas horas incertas!

Sinceramente.

Rodrigo Dutra      –     Major QOEM
Comandante da Escola de Bombeiros